Esse procedimento,
sem dúvida, ocorre com muita frequência em escolas ou esquadrões de instrução.
Médicos e psicólogos
afirmam que o simples reconhecimento de um problema é fator primordial para a sua
solução definitiva. Seria difícil aqui abordá-lo sob todos os seus aspectos,
mas algumas discussões serão benéficas, pois trarão à luz alguns conceitos já
conhecidos.
Imagine o peso da
responsabilidade que repousa nas costas de um instrutor de voo.
Além da atribuição
de fazer valer as horas de voo com a melhor instrução possível e evitar qualquer
acidente ou incidente com a aeronave e seus ocupantes, deve proteger quem está
“lá embaixo” e não tem nada a ver com a estória. Para tanto, há que estar com
seu “alerta situacional” máximo em todas as fases do voo: do acionamento do
motor ao corte final.
A questão revela-se
bem mais arriscada quando ministrando instrução a futuros pilotos, que estão
ainda “engatinhando” no caminho até o pleno domínio da máquina; no entanto,
atenção especial deverá ser dispensada àqueles que demonstram ter “mais”
aptidão para o voo e que aprendem com mais facilidade nos estágios iniciais,
visto que podem representar maiores riscos durante a instrução devido à autoconfiança
na sua proficiência, podendo gerar complacência por parte do instrutor. Com
esses alunos, atenção redobrada, pois é natural que o instrutor pense “ah, com
esse eu vou só passear porque ele manda bem!”
O risco está
“latente” em todas as etapas do voo de instrução. Desde o momento da decolagem até o
último pouso, passando pelo táxi (ah, o taxi…!) e todas as manobras previstas. Só estas
renderiam um livro!
A maioria dos
instrutores julga que, quanto menos se interferir nos comandos, estando a aeronave
sob controle do aluno, melhor. Essa ideia (técnica) é boa em seu conceito
básico, mas para ser efetiva é recomendável ser aplicada somente em casos
específicos, não devendo ser generalizada, porquanto poderia levar o instrutor
a um costume arriscado de demorar a reagir numa situação crítica com
determinado aluno.
A dúvida do
instrutor em assumir os controles, nessa ou naquela situação, confunde o aluno.
Também não é boa prática pilotar o tempo todo, simultaneamente com o aluno, enquanto
vai discorrendo para demonstrar como se devem realizar as manobras. Os alunos
tentam evitar esse tipo de instrutor, mas é muito difícil no decorrer do curso
de pilotagem não ser escalado para voar com algum desse. É muito provável que,
quando alcançar a qualificação de instrutor, o piloto que teve essa experiência
aja de modo contrário, um extremo igualmente indesejável.
Isso parece
verdadeiro para muitos instrutores com pouco tempo nessa atividade. À medida
que adquirem experiência, aprendem a respeitar as limitações individuais e a
desenvolver uma técnica mais realista e adequada a cada discente. Assim, somos
levados a concluir que esse problema prevalece no âmbito dos instrutores mais
novos, não no sentido cronológico. Afinal, sabe-se que muitos pilotos antigos,
quando se qualificam como instrutores de voo, estão sujeitos às mesmas reações
dos novatos.
Como regra, podemos
afirmar com certeza que, sempre que o instrutor estiver em dúvida quanto à
segurança no cumprimento de uma etapa de determinada manobra, o procedimento
recomendável é ASSUMIR OS CONTROLES DA AERONAVE. Essa afirmação pode soar
ridícula para alguns, porque é óbvia demais. Porém os fatos evidenciam que nem
todos os instrutores acreditam nela. Parece haver algum tipo de efeito
hipnótico em alguns instrutores, quando enfrentam uma situação de risco em
potencial. Faça um exame de consciência, você instrutor, e veja se consegue
lembrar-se de algum lampejo dessa natureza, na ânsia de deixar que o aluno
errasse para aprender, e de ter sido surpreendido por um pouso excessivamente
brusco. Essa atitude você não tornaria a repetir e sim assumiria os comandos
muito antes.
A correta linha de
ação é estar apto a se antecipar às situações perigosas, enquanto ainda é
possível controlar a aeronave. Não há justificativas para deixar os acontecimentos
evoluírem normalmente, mesmo quando existe uma sombra de dúvida acerca de um
eventual insucesso.
Em uma autorrotação,
por exemplo, existindo obstáculos significativos entre o momento da redução do
passo coletivo e o local de pouso ou arremetida, o instrutor deverá ser capaz
de prever, tão logo o aluno comece a descida, se ele vai passar ou não próximo
desses.
Esse é o último
momento de se adotar uma medida corretiva: arremeter ou determinar que o aluno o
faça. Não se justifica permitir a continuação da manobra, se houver qualquer
dúvida quanto à proximidade dos obstáculos, muito embora isto continue a
ocorrer em quase todos os voos de instrução. Não se pode isentar o aluno de sua
responsabilidade, ele também pode e deve iniciar uma arremetida se estiver com
dúvida, ou então, questionar o instrutor.
Em muitas situações,
quando o aluno não estiver fazendo acertadamente determinados procedimentos, o
instrutor pode deixá-lo errar para aprender por si mesmo. O bom docente saberá
distinguir essas ocorrências de outras que impliquem em segurança de voo ou
prejuízo à aprendizagem. Não há melhor maneira para aprender do que conseguir
superar os próprios erros com uma boa dose de esforço pessoal. A quebra da
aeronave não está prevista na categoria do autoaprendizado. E se o instrutor
vale quanto pesa não deixará que o aluno chegue a tanto.
O aluno pode ter o orgulho
próprio ferido quando o instrutor assume os comandos justamente naquela hora em
que tinha a certeza de que o pouso seria “manteiga”; mas a responsabilidade do
instrutor pelas vidas a bordo e pela máquina caríssima é muito grande. E ambos
devem compreender muito bem esse fato, e àquele deve ser dado o direito de
duvidar sempre.
“A regra básica é antecipar-se às reações da aeronave
e do aluno; não se deixar surpreender pelas reações dela ou dele.”
FONTE: INFORME SERIPA I – PERIÓDICO DE PREVENÇÃO
(EDIÇÃO Nº 15 / JULHO 2013)
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