sexta-feira, 25 de abril de 2008

PAPO DE HANGAR ENTREVISTA - EDUARDO MARANHÃO

Bem, colegas aviadores e afins, estou tentando a partir de hoje melhorar ainda mais o conteúdo do blog. Para isso tentarei, pelo menos uma vez por mês, fazer uma entrevista com alguém que possa trazer informações importantes para todos nós, sejam eles pilotos, comissários, professores, instrutores, alunos recém-formados, autoridades competentes ligadas a aviação, efim.
Para iniciar mais esse quadro do blog, consegui uma entrevista com o Eduardo Maranhão, ex-aluno do Aeroclube do RN e atual aluno da EJ, escola de aviação situada em Itápolis, no interior de São Paulo, cidade onde reside há quase 2 anos. O  Maranhão, como é mais conhecido, tem 34 anos, é graduado em arquitetura pela Universidade Potiguar - UNP e é natural de Parnaíba-PI.

Resolvi começar essa sessão com o Maranhão, pois a alguns meses o conheci através da internet e achei sua história bastante interessante. Tenho certeza que todos vocês irão gostar das declarações dele, das experiências, da determinação que é um exemplo pra todos nós. Aproveitem a entrevista e deixem seus comentários. Um abraço a todos e bons vôos sempre!




- Papo de Hangar: fale-nos um pouco sobre você... Quem é o Eduardo Maranhão?

- Eduardo Maranhão: Atualmente moro em Itápolis/SP, mas já morei por vários anos em Natal/RN, Fortaleza/CE, Santarém/PA e Parnaíba/PI. Tive a felicidade de conhecer e conviver com pessoas de todos os tipos, idades, credos, raças e culturas. Isso me proporcionou algo muito valioso que é saber respeitar a individualidade de cada pessoa, ou seja, sua filosofia, seu pensamento, seu modo de agir, sua convicção, sua cultura, enfim, seu modo de viver. Acredito que a vida é uma escola sem término de aulas, e assim, cada novo dia é uma aula onde aprendo uma lição, aprimoro meus conhecimentos e corrijo meus erros.
Sou paciente e tenho meus limites, gosto de conversar e ouvir as pessoas. Me considero bastante romântico, aprecio poemas e poesias e tudo mais que enalteça o amor. Adoro ouvir músicas, sou bem eclético quanto a isso, gosto de todos os gêneros, muito mais de um bom forrozinho, é claro, sou nordestino.
Valorizo demais as amizades, por isso, gosto de conhecer novas pessoas, fazer novos amigos e sempre estou aprendendo com cada pessoa que conheço. Sou Arquiteto e piloto de avião e só posso dizer que são ótimos cursos onde adquiri conhecimentos de grande valia, além de poder ter convivido com pessoas maravilhosas como os professores, funcionários e colegas de classe.
Gosto de coisas simples, tenho uma ligação muito forte com minha família, principalmente meus pais, que tiveram fundamental importância na minha educação, no meu aprendizado e sempre me incentivaram e propiciaram condições para que eu pudesse chegar até aqui.

- Papo de Hangar: De onde surgiu a vontade de ser piloto de avião?

- Eduardo Maranhão: Desde criança (aproximadamente aos 6 ou 7 anos de idade), eu já tinha fascinação por avião principalmente após a minha primeira viagem. A partir de então, o prazer só aumentava pois eram constantes as viagens devido ao emprego do meu pai que a cada três anos mudávamos de cidade. As visitas a cabine de comando já era uma coisa certa...

- Papo de Hangar: Quando você fez o primeiro curso, o famoso PP?

- Eduardo Maranhão: No AERN – Aeroclube do Rio Grande do Norte, foi no último semestre da minha faculdade, onde eu tranquei a faculdade por um semestre para estudar aviação, pois meu trabalho de graduação tinha muito a ver com a aviação. Participei na turma de 2005.2.

- Papo de Hangar: O que você fazia antes de começar a voar?

- Eduardo Maranhão: Sou arquiteto, então trabalhava com projetos arquitetônicos... Cheguei a executar algumas obras em Natal, Fortaleza e no Piauí.

- Papo de Hangar: Como foi a sensação da primeira decolagem, do primeiro pouso e do primeiro voo solo?

- Eduardo Maranhão: Comecei voando um Cessna 152, conhecido aqui como o famoso cessninha... primeira decolagem, realizado pelo instrutor, foi apenas uma apresentação do equipamento, estive com as mãos no comando só quando atingimos a altitude de segurança de treinamentos, como eu já esperava, por brincar no Flight Simulator desde 1996, foi tranqüilo. Passou-se a hora de vôo e tínhamos que retornar para o pouso, foi aí que descobri que o simulador de vôo, no computador, ajudou, mas que eu tinha muito que aprender... Esse vôo foi com o instrutor Warley, onde ele me pediu que fizesse a aproximação para o pouso, e que ele iria só acompanhar... Nem precisa dizer, parecia que o cessninha, melhor dizendo, eu estava completamente bêbado, pois não conseguia manter a aeronave no eixo de aproximação final, assumindo o comando o instrutor. No meu terceiro vôo, já comigo a decolagem e as manobras, mas o pouso só foi meu na hora seguinte, onde estudei as limitações no manual e conversei com amigos, escutando assim os macetes para um bom pouso. Chegamos assim na 12º hora de vôo, esse vôo foi com o Cmte Caulit, onde, no briefing após o vôo, ele me falou que eu estaria pronto para meu primeiro vôo solo, mas que, por normas da escola, eu teria que esperar pela 14º hora.
No dia do solo, com o instrutor Franck, ele me fez fazer vários pousos e pagou umas panes, mas ate aí foi normal de uma instrução... Quando em um de meus pousos ele falou: para, para, para, para... está cancelado teu solo de hoje, por gentileza para em frente a sala de operações, e eu: sim Sr. Ao pararmos ele falou: faz só o que tu me mostrou que sabe, não inventa e tenha um bom vôo... te aguardo para o banho de óleo. Foi como esperava, só que eu ainda achava poucas horas pra se liberar um aluno solo, mas se todo mundo passa por isso, eu fui e fiz mais um vôo solo do dia...

- Papo de Hangar: Por que ir estudar em São Paulo, na EJ?

- Eduardo Mranhão: Bom, quando decidi realmente encarar a aviação, a conselho de um amigo piloto da GOL: “Este é o caminho, se queres seguir carreira na aviação, disse-me o experiente Cmte.”, optei por fazer na EJ - escola de aeronáutica de renome nacional e internacional que oferecesse uma estrutura adequada e satisfatória...

- Papo de Hangar: Conte-nos um pouco sobre a sua experiência de ter feito a maior navegação da história da EJ.

- Eduardo Maranhão: Sim, como foi dito anteriormente, foi a mais longa navegação realizada por um PPav, na história da EJ – Escola de Aeronáutica, sedeada em Itápolis, interior do estado de São Paulo.
No dia 11 de maio, apenas cinco meses após ter começado a voar, e dois meses depois de ter obtido o brevê como piloto privado, decolei de Itápolis – SP, a bordo de uma aeronave P28A - Tupi, prefixo PT-VHY, e cheguei até São Luis, no estado Maranhão. Entre ida e volta, foram 51 horas de vôo, um total de 4 mil milhas percorridas ao longo de 15 dias, com escalas em Belo Horizonte - MG, Governador Valadares - MG, Porto Seguro – BA, Ilhéus - BA, Salvador - BA, Praia do Saco - SE, Aracaju - SE, Maceió – AL, Recife – PE, João Pessoa – PB, Natal – RN, Fortaleza – CE, Sobral – CE, Parnaíba, PI e finalmente São Luis - MA.
Fui acompanhado pelo instrutor Eder Ferrari, mas estive no comando durante todas as etapas da navegação. “Fiz tudo o que tinha direito: planos de vôo, pousos, decolagens, contatos e autorizações com os controladores”, diz. De quebra, ainda fui sabatinado, ao longo de toda a viagem, sobre as mais diversas situações que um piloto pode enfrentar, tais como cálculos de estimados, velocidade aerodinâmica e em relação ao solo, panes simuladas entre outras. Um curso intensivo e prático, em pleno ar. Tanta pressa em aprender tem uma boa razão, a paixão por aviões já vinha desde a infância, e o sonho de ser piloto era coisa antiga, desde que me conheci por gente, porém, ser um piloto de avião, sempre foi visto com reticências pela família. O fato é que me formei arquiteto e atuei na área até o ano de 2006, quando decidi que estava na hora de dar uma guinada na vida e correr atrás de meus objetivos para me realizar profissionalmente. Apesar do sobrenome Maranhão, nasci em Parnaíba no litoral do Piauí, uma região ainda pouco explorada turisticamente, mas que apresenta uma beleza natural de encher os olhos, com suas dunas de areias, praias belíssimas e o famoso Delta do Rio Parnaíba, assim chamado pela forma com que o rio desemboca no oceano (em forma de delta). Há mais de 15 anos, contudo, resido em Natal - RN com meu pai e meus irmãos, e foi lá que conheci um Comandante da GOL, visinho meu da praia, que me recomendou a EJ, dizendo ser o lugar certo para quem quer fazer a carreira como piloto.
A navegação para o Nordeste cumpriu duas finalidades: uma racional, que era ganhar experiência de forma acelerada, e outra, emocional: pousar no Aeroporto Internacional Augusto Severo, em Natal, sob os olhos orgulhosos do meu pai, José Maria Maranhão, e de outros familiares, “foi uma experiência ímpar”. De um modo geral a viagem foi tranqüila. “Uma das melhores coisas que o pessoal da EJ faz é preparar o piloto para todo tipo de situação”. “Antecipar-se e estar preparado para diversos tipos de situações em pleno vôo.
O único imprevisto e ponto fora da rota traçada, aconteceu no trajeto entre Salvador - BA e Aracaju - SE. “O teto estava muito baixo no aeroporto de Aracaju, fechando para os vôos visuais. Como eu ainda não tinha feito o curso de IFR, o procedimento mais comum e talvez mais cômodo, seria que o instrutor assumisse o comando e pousássemos por instrumentos (IFR). Porém, optei por alternar e acabamos pousando em uma pista particular na Praia do Saco, em Sergipe”. Fora isso, nenhum problema. Nem mesmo os famosos ventos de Natal, que nessa época chegam a 20 nós nos momentos de maior intensidade, atrapalharam. “Foi um pouso noturno e a atmosfera estava calma”. De volta à Itápolis, estou concluindo o curso de Piloto Comercial. Do lote das 90 horas de vôo que contratei junto à EJ, ainda tenho uma reserva e agora penso em utilizá-la em vôos para a região sul do país e pelo interior de São Paulo. No que diz respeito a alcançar meus objetivos e conquistar meu grande sonho profissional: não desistirei por nada nesse mundo e continuarei lutando para crescer cada vez mais... não quero perder mais tempo. Pressa mesmo, além de me formar e realizar profissionalmente, é me casar com uma pessoa maravilhosa, com quem namoro hoje.

- Papo de Hangar: Qual a sua opinião sobre as mulheres que estão cada vez mais investindo na carreira de piloto de avião?

- Eduardo Maranhão: Completamente a favor, pois são tão capazes quanto nós homens.

- Papo de Hangar: Quais as vantagens e desvantagens em voar na TMA São Paulo?

- Eduardo Maranhão:
Vantagens:
fraseologia aeronáutica em situações diferentes, tráfego aéreo intenso, entre outras situações em que faz com que o piloto no comando tenha uma agilidade diferenciada, raciocínio e ação...
Desvantagens: Atmosfera, em quanto no nordeste as estações do ano são bem definidas, aqui chega a acontecer as quatro estações em um só dia.
É comum aqui na cidade tempestade de areia (SS) e nuvens Cumulonimbus (CB).

- Papo de Hangar: Do que você mais sente falta em natal?

- Eduaardo Maranhão: Da minha família, da culinária nordestina, da minha namorada Talita, além das belezas que só o litoral do Nordeste brasileiro pode oferecer.

- Papo de Hangar: O que mais te assusta na aviação?

- Eduardo Maranhão: Apesar de já ter mais de 110 horas de voo, o medo de altura ainda levo comigo. Eu respeito muito meus limites e os da aeronave que piloto.

- Papo de Hangar: Quais são seus objetivos profissionais (linha aérea, aviação executiva, instrução, particular)?

- Eduardo Maranhão: Cada etapa no seu devido tempo. Penso hoje em terminar meu PC/MULT e IFR, depois voltar para minha terra e tentar um emprego na aviação executiva, onde pretendo ganhar experiência. Uma carreira de Piloto de Linha Aérea, seria uma conseqüência.

- Papo de Hangar: O que você teria feito diferente e o que você faria novamente?

- Eduardo Maranhão: Teria iniciado minha jornada de aviador civil muito antes, e teria feito novamente a fantástica navegação Sudeste/Nordeste, essa eu recomendo.

- Papo de Hangar: Quais os conselhos que você dá pra quem sonha em seguir a carreira de piloto de avião?

- Eduardo Maranhão: Se realmente gostar de voar encare, e se ingressar não desista... E lembre-se: Você deve sempre pilotar com a cabeça e não com as mãos.
Nunca permita que o avião leve você a algum lugar onde sua cabeça não tenha chegado cinco minutos antes.
“Srs, foi um prazer te-los a bordo... Pela atenção, meu muito obrigado!”

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