quinta-feira, 30 de abril de 2015

TEXTO - COMO ESTRAGAR SUA INSTRUÇÃO. PARTE 1/3

Amigos aviadores e entusiastas, hoje trago aqui um excelente texto escrito pelo meu amigo Adriano Axel, Piloto Comercial e Engenheiro Naval que dá algumas dicas de o que vocês precisam fazer para estragar efetivamente a sua instrução. O texto já está publicado no blog Fora do Solo e hoje tenho a honra de compartilhar esse material aqui no Papo de Hangar. Aproveitem!

Um abraço a todos e bons voos sempre!

Parabéns! Você está matriculado em um aeroclube ou em uma escola de aviação, está começando seu curso de piloto e todos os seus amigos e familiares lhe olham com admiração, trazendo uma sensação incrível que se soma ao prazer e ao encanto de voar.
Você pode achar que não, mas existe uma parte do seu eu interior, do seu subconsciente ou da sua aura, como queira, que está desesperada para  acabar com seu curso de uma vez por todas e jogá-lo no lixo. Como eu acho que precisamos dar mais atenção para o nosso subconsciente nesses tempos de agitação da vida moderna, e muitas pessoas não sabem exatamente como arruinar sua instrução de voo de uma vez por todas, trago aqui esta série inédita, em três partes, com 10 regras infalíveis:

1 - Seja ansioso. Se você gostasse de lerdeza, iria dirigir caminhão ou navio. Não avião. Aviação é coisa rápida. Então a ansiedade é fundamental, certo? Fundamental para que você deixe de lado itens de segurança e despreze dicas importantes de seus instrutores. Fundamental para que você aprenda a programar o FMS no flight simulator antes mesmo de decorar a velocidade de estol do Cessninha da sua instrução. Fundamental para que você insista em solar antes da hora porque acha que já está pronto. Mais ainda, a ansiedade é uma das forças mais poderosas para fazer você achar que já sabe o que ainda não teve tempo de aprender e fazê-lo lançar-se em situações perigosas sem medo. Se quer arruinar sua instrução, ser ansioso e não se importar com isso é um ótimo começo.

2 - Despreze a teoria. Fórmula da sustentação. Arrasto induzido. Espaços aéreos. Regras de passagem. Pra que tudo isso? Piloto mesmo é piloto "pé-e-mão", e isso é coisa que se aprende na prática, pra criar instinto, reflexo. Teoria é coisa de prova, chatice de ANAC. Acontece que a teoria é uma ferramenta poderosa para permitir a você evitar problemas sem ter que experimentá-los, sem ter que vivenciá-los pra valer. A teoria permite previsão. Saber de antemão o que vai mudar no avião se o dia estiver muito quente ou muito frio. Saber o que esperar daquele outro avião que está ingressando no circuito de tráfego ou passando perto de você durante um voo de cruzeiro. A teoria também explica por que certas coisas são importantes mesmo quando parecem só frescura, como o uso do checklist ou uma boa margem sobre a velocidade de estol durante a aproximação final, ou a necessidade de mais velocidade durante curvas fechadas puxando mais g. Por essas e outras, se você quiser avacalhar com sua instrução, despreze a teoria sempre que puder e cultive sua preguiça de estudar.

3 - Prefira os instrutores fáceis e fuja dos difíceis. Você não escolheu voar por que é chato. Escolheu porque é legal. Então por que voar com instrutores chatos? Existem muitos tipos de instrutores chatos. Existe o instrutor "manche duro". Você está dois mil pés acima do solo, em atmosfera calma, sem nenhum outro avião por perto... e o cara não te deixa pilotar sozinho de verdade. Está sempre com a mão no manche reduzindo a inclinação das suas curvas, corrigindo sua altitude antes que você mesmo o faça. Reclamando por causa de 10 RPM de diferença no ajuste do motor. Tem também o instrutor que acha que é checador ou que é a própria ANAC. Você vai fazer um voo local, de pouso e decolagem, e ele te pergunta como está o TAF para algum aeroporto próximo. Pra que? Ele te pergunta qual o máximo de óleo no avião. Mas tem uma marquinha na vareta de óleo, não precisa decorar isso. Daí ele te pergunta qual é a freqüência de comunicação nos corredores, e como vocês vão fazer um voo local de TGL, ele só pode mesmo é estar brincando. Sua vontade é dizer: "ei, a gente vai voar logo ou hoje é dia da banca e eu não estava sabendo?". Ótimo. Não se reprima. Revolte-se contra esses instrutores. Para que tentar aprender alguma coisa diferente com cada um deles e fazer de você uma colcha de retalhos do que há de melhor em cada um? Perda de tempo. Eles tem o estilo deles de voar, você tem o seu. E, depois, sejamos francos: você nunca vai ser um piloto bom o suficiente para que esses instrutores desistam de te encher o saco. Você bem poderia buscar se preparar mais para cada voo e ter as respostas na ponta da língua. E buscar descobrir como passar mais segurança para seus instrutores em voo, inclusive avisando antecipadamente o que você planeja fazer, para que eles sintam-se mais confiantes em soltar o manche. Mas são eles que têm que cuidar de você, e não você deles. Você está pagando (ver dica número 10)! Sinta-se à vontade para ignorar os instrutores malas e ter uma instrução prazerosa e inútil com os instrutores que contentam-se em ficar quietos no avião e deixá-lo voar como bem entender.

E então? Refletindo bem, alguma vez já flagrou seu eu interior tentando usar alguma das regras acima?

By Adriano Axel

Um comentário:

Axel Pliopas disse...

Opa, valeu por compartilhar! Em breve vão publicar as outras duas partes... Uma honra fazer parte deste espaço... grande abraço!