quarta-feira, 5 de novembro de 2008

HISTÓRIA DA AVIAÇÃO - AVIAÇÃO POTIGUAR

Queridos amigos e amigas, hoje, em mais uma das minhas noites de insônia, e, como costumamos dizer aqui no nordeste, escavacando a internet, encontrei uma excelente reportagem, publicada nos Cadernos Especiais do Jornal Tribuna do Norte, no fascículo 11, da História do Rio Grande do Norte. Trata-se de um material riquíssimo para nós aviadores, para os historiadores e apaixonados pela a aviação e, especialmente pelo RN. No total são 16 fascículos que tratam desde o período pré-colonial até temas mais contemporâneos da nossa história.
Claro que eu não podia deixar isso passar em branco e tomei a liberdade de selecionar alguns trechos desse material e disponibilizar aqui para todos nós. O material é muito extenso, mas me preocupei em resgatar apenas os assuntos mais ligados a aviação. Abaixo seguem os trechos, aproveitem!
A EPOPÉIA DA AVIAÇÃO

Os Hidroaviões Aterrissam no Potengi

A localização da Cidade do Natal fez com que seu nome ocupasse uma posição de relevo na história da aviação mundial. Sobretudo nos tempos iniciais ou, mais precisamente, no período compreendido entre 1922 e 1937, que se divide em duas fases: a dos hidroaviões e as dos aviões. Os hidroaviões desciam nas águas do Rio Potengi e, posteriormente, os aviões pousavam num campo em terra firme.
Os portugueses Sacadura Cabral e Gago Cointinho inauguraram a primeira fase com o "raid" África-Natal, cobrindo uma distância de 1.890 milhas. Por causa de dificuldades, os lusitanos desceram em Fernando de Noronha, passando por Natal e indo até Recife.
No dia 21 de dezembro de 1922, o brasileiro Euclides Pinto Martins e o norte-americano Walter Hinton chegava a Natal, fazendo o "Sampaio Correia II" amerissar nas águas do Rio Potengi. Estavam realizando o "raid" Nova Iorque-Rio de Janeiro.
Após essas façanhas, a capital norte-rio-grandense passou a receber grande número de aviadores famosos, que com suas aventuras escreviam a história da aviação. Todos eles foram recebidos como verdadeiros heróis.
Os natalenses acompanharam a ação dos pioneiros com muito interesse.
Exemplo: a 24 de fevereiro de 1927, Natal recebeu com manifestações de júbilo o marquês De Pinedo, italiano que juntamente com Carlo Del Prete e Victale Zachetti chegaram à cidade viajando no "Santa Maria". De Pinedo, além de percorrer as principais ruas natalenses em carro aberto, participou de um almoço em sua homenagem. No discurso de agradecimento, o marquês sentenciou: "Natal será a mais extraordinária estação da aviação mundial".
No mesmo ano, chegou ao Rio Grande do Norte a esquadrilha do exército norte-americano - a primeira esquadrilha a baixar no Rio Potengi - sob o comando do major Herbert Dangue e integrada pelos hidroaviões "Santo Antonio", "São Luís" e "São Francisco".
Nessa época, a França tinha planos de abrir rotas aéreas comerciais estabelecendo uma linha Europa-América do Sul, que não se concretizou. Mas a partir de 1924, revela Clyde Smith Junior, "empresas particulares assumiram a tarefa de executar esse projeto".
A Lignes Latéroère procurou estender sua ação até o Brasil. Essa companhia enviou Paul Vachet a Natal, num Breguet, um biplano que foi forçado a aterrissar na praia da Redinha porque Natal não contava ainda com um local apropriado.
O Breguet pilotado por Paul Vachet foi, portanto, o primeiro aeroplano - ou seja, avião que pousava em terra e não nas água, como os anteriores - a aterrissar no Rio Grande do Norte. Iniciando, assim, uma nova fase na história da aviação em terras potiguares.
Nasce o Aeroporto de Parnamirim

Paul Vachet foi enviado a Natal pela Lignes Latécoère para estabelecer aqui uma base dentro da rota Brasil-Dakar. E para isso precisava de um campo de pouso.
Vachet procurou, então, um terreno apropriado para construir um aeroporto. Segundo Câmara Cascudo, "um oficial do Exército, o coronel Luís Tavares levava para Parnamirim o batalhão sob o seu comando para exercícios militares. Em 1927, indicou-o como campo de pouso para os aviões da Latércoère. Feita uma limpeza sumária no mato ralo e nivelamento provisório, inaugurando-o, às 23h45 de 14 de outubro de 1927, o "Numgesser-et-Coli", um monomotor Breguet-19, pilotado por Dieu Coster e Le Brix, concluindo com êxito o roteiro Saint Louis do Senegal-Natal. Clyde Smith Junior informa que "esse foi o primeiro vôo transatlântico em sentido leste-oeste (...) Essa façanha marcou o início do serviço aéreo entre Paris e Buenos Aires".
Juvenal Lamartine e o Aéro Clube

O Rio Grande do Norte não poderia ficar apenas recebendo aviões. Era preciso participar de uma maneira mais ativa. Juvenal Lamartine, consciente do problema, apresentou um projeto na Câmara Federal para criar um aviódromo em Natal. A 29 de dezembro de 1928, era fundado o Aéro Clube.
Tarcísio Medeiros descreve o evento: "Participaram das festividades, numa revoada de Parnamirim a Natal, um "Blue Bird", pilotado pelo diretor-técnico, comandante Djalma Petit, trazendo a bordo o Sr. Fernando Pedroza, e um aparelho da Générale Aéropostale (C.G.A), pilotado por Depecker. Na ocasião, foi batizado o primeiro aeroplano do "club", com o nome de Natal".
A diretoria do Aéro Clube era formada por Juvenal Lamartine, presidente; Dioclécio Duarte, vice-presidente, e Adauto Câmara, primeiro secretário.
A sede estava situada no bairro do Tirol., onde ainda hoje se encontra, apesar de ter passado por sérias crises. E de acordo com Tarcísio Medeiros, possuía um "pequeno campo de pouso ao lado do poente da sede social'".

Esquadrilha Balbo e Coluna Capitolina

No dia 6 de janeiro de 1931, chegava a Natal a esquadrilha da força aérea italiana, comandada pelo general Ítalo Balbo. Composta inicialmente por doze aviões, apenas dez conseguiram atingir Natal.
Poucos dias antes, ou seja, em 1º de janeiro do mesmo ano, o navio italiano "Lanzeroto Malocell", sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Alberto Coraggio, trazia a Coluna Capitolina, doada pelo chefe do governo italiano, Benito Mussolini. A peça havia sido encontrada nas ruínas de Roma e foi oferecida ao povo natalense para comemorar o "raid" Roma-Natal, realizado pelos aviadores Del Prete e Ferrarin.
Nessa data, governava o Rio Grande do Norte o interventor federal Irineu Joffily. Participaram da comissão de recepção o prefeito Dias Guimarães e João Café Filho.
Em uma das faces da Coluna Capitolina há uma mensagem em italiano que foi traduzida para o português no livro "Aspectos Geopolíticos e Antropológicos da História do Rio Grande do Norte", de Tarcísio Medeiros: "Trazida de uma só lance sobre asas velozes além de toda distância tentada por Carlos Del Prete e Arturo Ferrerin, a Itália aqui chegou a 5 de julho de 1928. O oceano não mais divide e sim une as agentes latinas de Itália e Brasil".
A Viagem Inédita de Jean Mermoz

Um dos aviadores que marcou presença em Natal durante essa época foi o francês Jean Mermoz.
No dia 13 de maio de 1930, Jean Mermoz realizou a sua primeira travessia. Partindo de São Luís do Senegal, chegou a Natal vencendo uma distância de 3.100 quilômetros. Passou alguns dias na capital potiguar planejando uma viagem de regresso, o que seria um fato inédito.
O aviador francês voltou a Natal em abril do ano de 1933, pensando ainda em realizar o seu sonho: a viagem Natal-Dakar. Fez muitas amizades no Rio Grande do Norte. Um de seus amigos, Eudes de Carvalho, revelou que o francês "adquiriu, com o tempo, apego à terra e à gente potiguar e previu o futuro de Parnamirim como base aérea de destaque mundial".
Jean Mermoz, finalmente, conseguiu concretizar sua antiga aspiração. Partindo de Natal num trimotor, o "Arc-en-Ciel", pousou em Dakar, sendo o primeiro a realizar tal façanha.
O piloto francês participou de outras atividades em ação militar, recebendo as medalhas "Cruz da Guerra' e "Levante". Tarcísio Medeiros narra outro feito de Mermoz: "bateu, entre 11 e 12 de abril de 1930, o "record" mundial de permanência no ar, em circuito fechado, cobrindo 4.343 quilômetros em 30 horas e 30 minutos, em Laté-28 com flutuadores, no qual voou para Natal".
Jean Mermoz desapareceu nas águas do Oceano Atlântico a bordo do seu "Croix-de Sud", em dezembro de 1936.
Concorrência Européia nos Céus Natalenses

Depois da França, a Aleamha entrou em cena. A Lufthansa estendeu sua ação comercial até Natal durante 1933. No outro ano, informa Clyde Smith Junior, "as linhas aéras francesas e alemãs entraram em um acordo que exercia uma cooperação técnica e uma cidisão de itinerário. Em torno de 1937, elas concordaram em associar suas receitas relativas ao trecho África-Natal e, em 1939, a Air France (antiga Lignes Latécoère) e a Condor (Lufthansa) tornaram seus bilhetes permutáveis na África do Sul".
A Itália também esteve presente em Natal através da Linee Aeree Transcontinentali Italiane - Ala Litoria (LATI). A empresa foi organizada pelo governo italiano e, posteriormente, foi acusada pelos adversários, durante a guerra, de estar a serviço das "Tropas do Eixo".
A Inglaterra e os Estados Unidos não participaram desse esforço inicial, em rotas que envolveram Natal no processo de desenvolvimento da aviação. Somente durante o início da Segunda Guerra Mundial é que a companhia norte-americana Pan American manteve uma rota que passava por Natal.
O Grande Projeto de Augusto Severo

Augusto Severo nasceu na cidade de Macaíba, no dia 11 de janeiro de 1864, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e D. Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão.
Entre seus irmãos, os que mais se destacaram foram Pedro Velho e Alberto Maranhão.
O biógrafo Augusto Fernandes traçou em poucas palavras a personalidade de Augusto Severo: "físico avantajado era o espelho fiel de espírito vigoroso. Figura simpática, sabendo o que dizia e trazendo-o desembaraçadamente, com os olhos mansos, o sorriso fácil e os gestos aristocratas, conquistava sem dificuldade as pessoas mais esquivas".
Iniciou os estudos na terra onde nasceu, Macaíba, e depois continuou a sua vida de estudante em duas outras cidades: Natal e Salvador. Fez o curso de humanidades com brilhantismo.
Entrou posteriormente para a Escola Politécnica, no Rio de Janeiro. Quando cursava o segundo ano, adoeceu e teve que voltar para Natal.
Exerceu, então, a função de professor de Matemática no Ginásio Norte-Riograndense, escola da qual chegou a ser vice-diretor. Quando o Ginásio fechou, em 1883, foi forçado a se dedicar ao comércio, trabalhando como guarda-livros da loja "Guararapes".
Idealista participou ao lado de Pedro Velho da campanha abolicionista. Com relação às suas preocupações como homem de ciência, Augusto Severo se dedicou primeiro em descobrir o modo-contínuo. Depois, abandonou essa pesquisa. Pensou também em estudar o "mais" pesado que o ar". Desistiu. Os seus interesses começavam a se voltar para outra direção: "agora, todos os seus estudos e esforços buscava descobrir um meio para dar estabilidade e segura dirigibilidade aos balões. Imaginou e desenhou, então, o "Potiguarânis", que não chegou a ser realizado, mas influiu na construção, mais tarde, do Bartolomeu de Gusmão, realmente o seu primeiro dirigível".
Continuando seus estudos, chegou ao "PAX', considerado pelos técnicos como um importante avanço na conquista do espaço. Criou também o "tubo motor de reação", que dizem ter sido usado pela torpedeira "A Turbina", que pertencia à marinha inglesa. Segundo Augusto Fernandes, a "Turbina" chegou a atingir uma velocidade de 37 milhas.
É ainda Augusto Fernandes que fala sobre outra criação do cientista norte-rio-grandense: inventou "o sistema de hélice introduzida no interior de um tubo, que atravessa o navio seguindo o grande eixo, permitindo-lhe marchar avante e a ré". Em 1893, Augusto Severo substituiu o irmão Pedro Velho no Congresso.
Em 19 de outubro de 1901, Santos Dumont, com o dirigível 'Santos Dumont nº 6", realizou um grande feito, pelo qual recebeu o prêmio "Deutsc" . Depois de levantar vôo de Saint-Cloud, para assombro do povo de Paris, contornou a Torre Eiffel.
Anterior a essa data, houve um movimento no Brasil para prestar uma homenagem ao aeronauta brasileiro. No Congresso Nacional, o deputado federal Bueno de Paiva propôs, no dia 17 de julho de 1901, um voto de louvor a Santos Dumont, por ter encontrado "a solução do secular problema" da dirigibilidade e estabilidade. Acontece que Augusto Severo, um profundo conhecedor da questão, sabia que tal solução não havia sido encontrada e protestou contra a inverdade. Mas, reconhecendo a importância do aeronauta, propôs que fosse inserido em ata um voto de louvor a Alberto Santos Dumont e ainda concedido ao ilustre brasileiro, como prêmio o valor de 100:000$000, importância que ele precisava para continuar suas experiências. O discurso de Augusto Severo foi simplesmente brilhante. Ao conclui-lo foi, além de muito aplaudido, abraçado pelos deputados presentes.
Augusto Severo, após licenciar-se da Câmara Federal, partiu para Paris com a finalidade de fazer, igualmente, experiência no campo da aeronáutica.
Augusto Fernandes, numa síntese, demonstra toda a importância de Severo: "os balcões de Dumont, como os de seus antecessores, sob o ponto de vista científico, não possuíam as características necessárias de ESTABILIDADE e, portanto, perfeita NAVEGABILIDADE. Esta conquista pertence, exclusivamente, a Augusto Severo".
Ele não se tornou, como chegaram a comentar em Paris, um rival de Santos Dumont, E sim, afirma Augusto Fernandes, "um concorrente sério, competente, leal, para Dumont. E sim, afirma Augusto Fernandes, "um concorrente sério, competente, leal, para Dumont ou qualquer outro que tentasse as mesmas experiências".
Paralelamente às suas experiências, Augusto Severo, com sua simpátia contagiante de verdadeiro aristocrata, fez sucesso na sociedade parisiense e européia, conseguindo a amizade de grandes personalidades da época, como Zola e Paul Rousseau. Chegou inclusive a receber uma carta da princesa Wiszniewska, presidente d fundadora da "Aliança Universal das Mulheres pela Paz e pela Educação".
Finalmente, o grande projeto de Augusto Severo estava pronto: o "PAX"! Revistas da França e da Inglaterra abriram suas páginas para falar sobre a experiência que estava prestes a acontecer. Era a glória!
Na construção do PAX, Severo contou com a importante ajuda do mecânico George Sachet.
Na madrugada do dia 12 de maio de 1902, Augusto Severo e George Sachet realizavam, para o povo de Paris, o tão almejado vôo. Quando o PAX se encontrava aproximadamente a 400 metros de altura, um clarão e, depois, uma explosão. Era o fim do sonho. Morreram ambos, Severo e Sachet.
Um texto e "A Notícia", no jornal do Rio de Janeiro (23/6/1902), narrando o enterro de Augusto Severo, poetizou: "não acredito haja alguém, lá fora, que possa em pleno dia - um dia rútilo de sol pelas ruas apinhadas de gente e passando, entretanto, silencioso, recolhido, sem um rumor, como se as mais vastas praças fossem pequenas câmaras mortuárias, em que se anda nas pontas dos pés, com um respeito religioso (...). Que dia esplêndido de glória! Glória triste - mas, apesar de tudo, glória!".

Fonte: Cadernos Especiais - Tribuna do Norte - História do Rio Grande do Norte

2 comentários:

Alfredo disse...

O nome do avião de meu pai, Djalma Petit, com o qual inaugurou o Aeroclube de Natal, é Blue Bird, sem hífen, não como está no artigo, Beu-Vird.
Encaminhei menssagm à Tribuna do Norte, a respeito.
Saudações
Alfredo A. Petit
achepetit@hotmail.com

Bruno Maciel disse...

Valeu Alfredo, feitas as devidas correções. Abraço!